Segunda-feira, 30 de Março de 2009
Cavámos um negro declive, que quase sem textura lisa nos separa dessa fragosa vida.
Cavando lentamente, esbatendo a cor que
não se mistura em textura,e mesmo sem nada
ajuizar, esse imenso buraco fomos cavando
no meio de nós...
Tão vagaroso que nem notei, cavámos uma funda fossa, pensando saber construir uma imensa e confortável toca.
E de tão escura nem a vejo, abrindo uma vala tão simétrica, partimos em dois essa nossa textura, que nem por nada se mistura...
Mistura que já não se envolve,e sempre se quebra, que não se agrega nem se funde,não se encorpara nem une...
Essa vala que abrimos, querendo sem saber...partiu toda a nossa harmoniosa textura, desprendendo de nós aquele nosso afeiçoado viver
E,pintada por nós, desconjuntamos duas cadenciadas texturas que não prevíamos
dissecar assim
Um afecto,que de árdego,um dia se tornou amor, que de brando se esqueceu do seu imenso calor.
Tornado negro o buraco, que tão simétrico se fez, não lembramos a linha que traçamos
e que nos separou outra vez...
E essa simétrica risca,limita uma união desgastada
Mas a linha continua ali,por si só assegurada, separando essas duas texturas tão diferentes e tão parecidas em si ...
Numa vive o negrume do nada...
Noutra um pouco de mim e de ti...
Separamos assim,como quem com uma faca, não se importa de golpear qualquer alma.
Ceifamos assim,sem querer nem saber... a nossa mais profunda calma
E hoje, agitados não encontramos texturas que se misturem, que se fundam e se abracem
que se calem.
Que se unam, que para sempre se enlaçem...
Não encontramos lisura, não encontramos candura, já não temos qualquer textura...
E, de cândidas nada têm estas texturas cortadas, que de tão simétricas só embelezam estas
vidas inacabadas.
Com um corte perfeito, separamos o que se unia, sem sabermos que se pode cortar sem querer...
Cortamos tão melancólicamente o nosso estremecido viver...
Teresa Maria Queiroz/Março 2009
foto ..de José Dias Correia
obrigada!