Segunda-feira, 30 de Março de 2009
Noiva plastificada num sentimento que julgará eterno,
acreditando no futuro
que de estranho já não lhe estranha.
Esta noiva plastificada sofre
e veste o plástico que lhe dão...
A plastificada noiva que é,sabe
a plastificada vida que adivinha ser,
por isso se mumifica envolta
no plástico do sentimento
que já conhece assim
fica queda,
sem saber,
sem se mexer
sem pensar...
Tudo deixa adivinhar a plastificada noiva,que se enrola no plástico do seu querer .
Mumificada segura um vestido que sabe não
lhe servir...
Esta plastificada noiva que não sorri ao sentir,e
com o aquele incómodo plástico do viver, se deixa passivamente envolver.
Passivamente adivinhando todo o seu futuro o seu ser, plastificada se mumifica num sentimento de já nada querer.
Esta plastificada noiva que de plástico viverá ...
mesmo quando menos esperar,mesmo sem se aperceber
presa a um plástico vivo, se deixará acomodar com medo de rasgar o plástico mumificante.
Teresa Maria Queiroz/Março 2009
foto.....António Carlos Carvalho
lágrimas coloridas assim...
pintadas por qualquer pintor
nunca mais chorarei lágrimas
sem estas descontinuas
pinceladas de cor
porque lágrimas transparentes
sufocam qualquer chorar de dor
lágrimas coloridas por ti
pintadas por qualquer pintor
choradas assim por mim
sem querer
e
sem saber como caíam
só as queria sentir com cor
e nunca inundadas de dor...
matizadas pela mistura colorida
que só por si me consegue abafar
qualquer entranhada dor
nestas descontinuas pinceladas
de cor
se chorar
seja como for
chorarei com cor
mesmo que o pranto carregue o desamor
olharei para este mar de lágrimas
que se confundem
e
chorarei rindo da alegria que consigo ver
só olhando porque é belo
só rindo porque me afago
neste sentimento de amor
amor
dor
cor
mistura que me desfaz a transparência
de lágrimas antigas
que sem cor se perdiam
que sem cor viviam
agora o pranto
tomou luz
agora o pranto
mesmo que seja de dor
de amor
ou qualquer torpor
será vivo
como a cor que se mistura
num pincel de pintor
e confunde a tristeza
que de lágrimas se incorpora
que de lágrimas se alimenta
assim chorarei
sempre
chorarei por mim
lágrimas pintadas
com tanto resplendor
chorarei por qualquer dor
sempre acompanhada pela cor
que confunde a tristeza no seu esplendor
aprendi
por ti
a chorar com pinceladas de cor
lágrimas pintadas que eternizam o amor
que de transparente
não se sabe mais...
amor com cor
dor com amor
lágrimas para sempre
com cor...
Teresa Maria Queiroz/Março 2009
quadro: acrílico s/tela de Horácio Queiroz
Lado a lado se apagaram as chamas
que um dia ali bailaram,airosamente
dançaram queimando o ar
que sempre sopraram.
Lado a lado já não brilham
num puro vidro luzidio
ofoscadas sem luz, já não encantam
nem se movem num sensual redopio
esperando a chama que não vem...
Apagadas
assim ficam lado a lado como que avariadas, sem para nada
já conseguirem servir.
As candeias sem a chama que nos aquece, as candeias onde o brilho se amortece.
Candeias às avessas nem são...
Simplesmente candeias apagadas na sua morta paixão...
Assim permanecem lado a lado ,já sem nenhuma razão ,sem qualquer inesperado
querer por aí escondido ou guardado.
Permanecem, porque o que se espera já foi, porque a chama se apagou sem vento forte que a matasse, apenas um sopro fino que as desmaiou.
Sem mesmo saberem porque, porque a vida assim o quis, achando que nada se une
para sempre, já nem lado a lado se aquecem...
As candeias às avessas apagam-se,simplesmente se desmaiam, e sem chama ficam apagadas.
Já para nada servirem.
Já sem iluminar um sentir, já sem bailar, rir ou sorrir, as candeias de vidro fosco
que não se embelezam de brilho, ali permanecem sem rosto e assim lado a lado se afastam...
até o tempo querer
até o tempo apagar
até o tempo
mandar
lado a lado não se aquecem
sem se saber aconchegar
e teimosamente
não se rendem
nessa existência apagada
e...
lado a lado aprenderam
a já não esperar por nada
Teresa Maria Queiroz/ Março 2009
foto...José Dias Correia
numa vida que escorre branca cá dentro,vivo a frescura fria da água que me mata a sede de viver e me aqueçe a alma
sem saber.
Escorrendo branca, caí sem me poder fazer doer,
que de dor já não me resfrio.
Encharcada em gotas do amor que crio e me aqueçem na minha vida que escorre branca e transparente,não posso cair sozinha.
Essas rochas que me acarinham avisam no cair de gotas
que a vida não se adivinha, e não querendo cair sozinha
nunca mais...
agarro a rocha por onde me escorro branca.
Escorrego e caio sem dor,repleta duma transparente
esperança de amor...
escorro branca e já sem dor, nessa rocha que me afaga, nessa água que me molha
escorrendo por dentro de mim.
Avisa-me que a vida é fria e aquece-me os restos de amor.
E se a vida me deixar agora, se não escorrer branca por mim, levará para sempre
uma transparente parte de si.
De tão bela fixo o escorrer desta água
que me inunda sem me afogar em querer.
Branca, encontro nela a força que me molha e acalenta este meu atribulado e transparente viver.
Teresa Maria Queiroz/Março 2009
foto....José Dias Correia
Todas essas linhas que contornam o meu andar ,contam as breves histórias
deste meu longo e pesado caminhar.
Contam as histórias de quem já fui
ao ali passar.
Tantos caminhos que percorri, contam-se os passos que já perdi, contam tudo o que eu vivi.
Esses passos que nada valem,se não souberes por onde ando,se não souberes por onde fui, se não souberes o meu caminho
nem descobrires o percurso.
Passos perdidos em caminhos traçados e duramente cravados em pedras desalinhadas...
Percorrendo caminhos pensei que nunca chegaria ao fim, fixando as linhas que separam
essas desalinhadas pedras que pisei, nunca parei...
Sem contar os passos que já dei, sei que por ali tambem eu deambulei com passos que nada valem...
Se não souberes por onde vou,se não sentires onde estou, se não ouvires os passoa que dei...
sei que para ti foram passos sem som, para mim são traços de caminhos percorridos
em qualquer tom...
Estas pedras duras que se desalinham, contam as histórias marcadas no meu já longo caminho.
Em infindáveis estradas, por tantos lados andei sem saber quando parar ,sem nunca conseguir ficar...
andei pensado saber caminhar, nesses caminhos traçados por mim e, a essas pedras que pisei, ouvi...só elas me disseram...
Que caminhando por aí,se conseguia um dia chegar aqui onde estou.
Esses caminhos que guardam as história de quem já fui, empurram-me para um destino que não acabará em ti, e que se prelongará até um qualquer anunciado fim.
Teresa Maria Queiroz / Março 2009
foto....José Dias Correia
a chama bicolor
ondulante e
bailarina
dança
leva-te até ás fadas
que imaginas existir
a fadas contam-te os teus
segredos
bailando nessa suave chama
bicolor
que tanto te fascina
contam-te
coisas de mim
falam-te de ti...
coisas
cantadas e faladas
que adivinhas sem querer
as fadas assobiam baixinho
avisando-te
qual o caminho
e
nessa luz de vela se rebolam
à tua volta
e
te consolam nas lágrimas
que ninguém vê
nas lágrimas
que ninguém sabe
inundadas de luz te afagam
as saudades dum passado
que já futuro não é
e nessa cálida luz sonhas
aquilo que só as fadas te deixam sonhar...
com medo de errar um futuro
não despegas um passado
que de conhecido te conforta
tudo o que já foi sonhado
e nessa cálida
luz de vela
te concentras em ti
ouvindo vozes de fadas
que já te falaram de mim....
Teresa Maria Queiroz/ Março 2009
Afasto com as mãos e não consigo apagar
essa incómoda, e turva visão.
Afasto com as mão, e reconheço que não
me chega a razão.
E na bruma procuro um sentido que me leve
e me afaste desse montanhoso caminho,percorrido para lá desta enorme ilusão.
E...desilude-me a tal visão que tanto me embelezava o meu fragmentado coração.
Afasto com as mãos, e não consigo afastar esta densa desrazão de tão imensa e densa,
afasto-a com as mão e não vejo mais que uma deturpada e estuporada confusão...
Avanço nesse cinzento denso, abrindo espaço com as mãos e passando para lá da razão
desbravo caminho na bruma...
Subindo montes e descendo vales vou ao encontro de tudo, procurando por nada...
Afasto com as mãos apagando essa incómoda e turva visão dessa atroz desilusão.
Afasto-te de mim, como afasto o pesado ar que se repele num vigoroso safanão...
E nesta densa bruma que sempre me turva a visão,raramente encontro qualquer explicação...
Sei que a bruma não explica, que o ar não sussurra, que o caminho não avisa...
Mas vou ,seguindo o caminho das trevas, até encontrar uma razão que não se suporte
em qualquer penosa desilusão, e afasto outra vez com as minhas mãos, o caminho,num vigoroso e assertivo safanão...
Teresa Maria Queiroz/ Março 2009
foto da Serra de Sintra...
de
José Dias Correia
Cavámos um negro declive, que quase sem textura lisa nos separa dessa fragosa vida.
Cavando lentamente, esbatendo a cor que
não se mistura em textura,e mesmo sem nada
ajuizar, esse imenso buraco fomos cavando
no meio de nós...
Tão vagaroso que nem notei, cavámos uma funda fossa, pensando saber construir uma imensa e confortável toca.
E de tão escura nem a vejo, abrindo uma vala tão simétrica, partimos em dois essa nossa textura, que nem por nada se mistura...
Mistura que já não se envolve,e sempre se quebra, que não se agrega nem se funde,não se encorpara nem une...
Essa vala que abrimos, querendo sem saber...partiu toda a nossa harmoniosa textura, desprendendo de nós aquele nosso afeiçoado viver
E,pintada por nós, desconjuntamos duas cadenciadas texturas que não prevíamos
dissecar assim
Um afecto,que de árdego,um dia se tornou amor, que de brando se esqueceu do seu imenso calor.
Tornado negro o buraco, que tão simétrico se fez, não lembramos a linha que traçamos
e que nos separou outra vez...
E essa simétrica risca,limita uma união desgastada
Mas a linha continua ali,por si só assegurada, separando essas duas texturas tão diferentes e tão parecidas em si ...
Numa vive o negrume do nada...
Noutra um pouco de mim e de ti...
Separamos assim,como quem com uma faca, não se importa de golpear qualquer alma.
Ceifamos assim,sem querer nem saber... a nossa mais profunda calma
E hoje, agitados não encontramos texturas que se misturem, que se fundam e se abracem
que se calem.
Que se unam, que para sempre se enlaçem...
Não encontramos lisura, não encontramos candura, já não temos qualquer textura...
E, de cândidas nada têm estas texturas cortadas, que de tão simétricas só embelezam estas
vidas inacabadas.
Com um corte perfeito, separamos o que se unia, sem sabermos que se pode cortar sem querer...
Cortamos tão melancólicamente o nosso estremecido viver...
Teresa Maria Queiroz/Março 2009
foto ..de José Dias Correia
obrigada!
Por esses caminhos mutantes, andaste
por atalhos errados.
Passeias ainda nesse teu fatigado andar,cortando caminho procuras e não encontras a tua saída.
Por caminhos errados, andas em passagens
mutantes e tão distantes...
Não corres... caminhas tão devagar...
Divagas sem destino, num rumo cromático
no qual te deixas deslizar, e escorregas, por caminhos errantes,andando...
Já não te vejo desde aqui...
Mudando a tua cor, escondes-te de qualquer dor...percorrendo esses errados caminhos
acertas um passo tão curto , tão devagarinho...
Não sabes se segues, se cais, se paras para nunca conseguires chegar a nenhum conhecido lugar.
Aquela mutante cor, nada te diz nem conduz o teu andar.
Curvado sobre o peso duma dor isenta de qualquer cor, carregas-te...e deslizas nesse cromático caminho, escondes-te andando e já mesmo adivinhando que nunca
te verás chegando...passeias em ti , erras em ti qualquer escorreito amor sem rumo.
Por caminhos errados andas, sem correr absorves o teu estuporado torpor.
Por esses mutantes caminhos, errados, não lhes sabes mudar a cor, nem aprendes os caminhos sem dor.
Não encontrando,caminhas...
curvando-te sem amor
Teresa Maria Queiroz/Março 2009
quadro:acrílico s/tela
Horácio Queiroz
Não me queimo, neste meu tão perfeito fogo.
Não me fere este pulcro fogo, enão me cega o seu fumo.
Não me arde esta fogueira, na sua revigorosa cor.
Não lhe consigo reconhecar aquela dor, que rodeia o meu corpo de amor.
Tal como um tronco que se desfaz crepitando, vivo-te neste fogoso fogo, libertando fagulhas em brasa.
Não me queimo, neste fogoso fogo que me muda de cor,que
não me fere o olhar, que me mistura num cheiro e num ardente calor
refunde-me num baile de vento elevando-se em vivas chamas e como a um tronco me desfazesem brasas de vida...
Neste fogoso fogo, viverei bailando, eternamente ondulando no ar que me rodeia,sufoco num fumo que a essência me cheira.
Em retalhos de vida ficarei abrasando-me de paixão e cor ,nesse fogo me empolgo
vivendo em brasas sem medo, suporto o calor que tem uma vida de fogueiras ...
que nada serão sem paixão e, que sem este fogoso fogo devagar se apagarão...
Sem ar, sem fumo, sem cheiro, sem o seu fogoso calor, nada será...
Meu lento fogo que me enlaças, incinera-me nessas brasas que me picam com as suas
fagulhas disparadas,e que de tão fortes não me queimam...
de vida e calor, não me queimo neste meu embriagao e perfeito fogo de amor...
Teresa Maria Queiroz/ Março 2009
foto de António Carlos Carvalho
obrigada Tó